SIMPLES ASSIM...

Dona Consuelo é uma senhorinha muito moderna, usa vestidos justos, e detalhes “animal print” no look, se maquia discretamente, tem as sobrancelhas delicadamente desenhadas, os cabelos curtinhos e prateados  - como as senhoras dos livros de poesia -  combina seus acessórios com a roupa que está usando, sempre muito bem arrumadinha que dá gosto de ver (escrevo  no diminutivo para  que a  doçura dela seja  mais real). Dias atrás, na fila do mercado,  me encontro com ela, que graciosamente se dirige à minha filha dizendo:  - como é linda essa menina! (silêncio )  Com a mesma delicadeza me diz:  - Claro, a mãe também é bonita!  Respondo:  Imagina, a senhora é que é muito elegante e está sempre muito “chic” !  Ela me olha nos olhos (coisa não muito freqüente nos dias atuais), com seu olhar muito mais firme que seu caminhar e diz: “Faço isso por amor! Por amor à  mim, ao meu companheiro e ao próximo, o que inclui você!” (ela disse que se arrumava da melhor maneira possível para mim?... Mas ela nem me conhece...)   O que fazer com esta declaração? como conseguir manter-se o mesmo,  depois de palavras tão sinceras? sim, porque naquele instante todo "o mundo" se transformou!  tudo à minha volta era amor! Voltei para casa, para minha rotina e a senhorinha ali, falando e se movendo nos meus pensamentos . Certamente, curiosa que sou, quis saber muito mais da vida dela, primeiro observei. Sempre com seu companheiro, para cima e para baixo, ela de mini saia e botas ele de suspensórios e rabo de cavalo! De alguma maneira, me senti mais protegida sabendo que eles moravam no mesmo prédio que eu!  Cansada de São Valentim, de João Doria, de Cestas de café da manhã e de todas as publicidades e “apelos” que envolvem o dia 12 de junho, sendo meio desajeitada em “combinar palavras”, tendo lido   Pessoa, Drummond, Florbela, Vinícius e tantos mestres que falaram de Amor, obviamente não iria me atrever a discorrer sobre o tema, porém, vi em minhas mãos um presente mais que especial , percebi que podia compartilhar um pouco da  história  de uma vida "a dois" que ainda está sendo escrita - com lápis de cor pra ficar bem colorido - que tantas vezes procuramos, mas que, por vergonha ou por não ter ter "podido aprender", insistimos em negar,  em achar que é platônico, é utópico é finito!

Dona Consuelo e seu companheiro Sr. Hilton Sergio, há trinta e cinco anos,  vivem uma verdadeira história de amor, de companheirismo de conquista diária... Dormem juntos, abraçadinhos e se beijam na boca. Saem para dançar, vão aos cassinos e voltam para casa de madrugada...  Fazem planos a curto e longo prazo, viajam quando podem, vão à Fortaleza, e planejam San Diego, ela controla o Diabetes dele e, por sua vez, ele escolhe os vestidos dela. Ela usa creme  natural de abacate para prevenir as rugas e ele coloca fotos dos dois se beijando na tela do computador... Pergunto: Qual o segredo? ela responde:  - “O segredo é o perdão! Já que somos pessoas únicas, temos nossas diferenças e sendo humanos, erramos. Se não existe a capacidade de perdoar, não há possibilidade de compartilhar. Amar é ter "cuidado"  é estar bonita para ajudar a enfeitar e colorir o mundo! Simples assim...

Tenho recebido presentes  do casal: abacaxi, coca cola zero e convites para o cassino...  Dona Consuelo sempre se despede dizendo: “ ajude o próximo sempre que ele precisar”.  Tenho medo de um dia bater no  “807” e descobrir que esse casal nunca morou lá!

Feliz “dia dos namorados!”  

Este texto está publicado na primeira edição da revista VIE CATARINA MAG

http://www.viecatarina.com.br